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Marisa arrumava tudo como ela sempre fez.
Verificava — minuto a minuto — seu relógio de pulseira dourada, que ganhara 34 anos atrás, em seu aniversário de 15: havia tanto tempo e a noiva estava muito atrasada.
Foi então que chegou, em meio a "copo d'água!", "preciso retocar meu batom, rápido!" — A Noiva.
Marisa, quando a viu, apoiou-se no banco que estava
perto de si, tentando encontrar algum respaldo para tudo aquilo que acreditou em
sua vida: noivas de branco, como belas virgens marchando levemente para o
aliançamento.
A Noiva não era virgem — ao menos não estampava a virgindade em vestido branco bordado, trajava um mini laranja fluorescente tomara-que-caia! E cabelos nus, estendendo-se como um antivéu de pecados declarados, além das nádegas: os pés vinham descalços.
O que aturdiu a cabeça de Marisa foi acompanhar Aquela Noiva estridente, sem flores, sem noivo, sem véu, 34 anos atrasada e que mascava os chicletes — não como uma Madonna, mas como uma vaca — e que por fim, cuspiu nas suas mãos, a massa doce babada, dizendo
"Qué?"
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Graziela C. Drago K. Zeligara
2012