17/03/2018

coração de onça


um espaço enorme. alqueires em extensão incalculável a olhos nus (as tecnologias vestem os saberes). não é fazenda , pasto ou plantação. a infinitude é difícil de enxergar em mata fechada. Não se vê além de verde um palmo além da cara, os olhos nus de tecnologia não entendem esta distância oculta.

onça não vive em confinamento. Adestramentos nem de circo ou zoológico resguardam a animalia. Anômalo coração que se distribui em olhos e orelhas, ou rabo. Mamífero de ancestralidade sem leite, água equilibrando na língua áspera gole e gole de movimento. O coração anômalo, de tantos espaços sem vigilância os olhos perpassam todo o território em memória, sapiência de domínio e sangue para alimento. Caça o coração para alimentar a onça, manter o espaço vasto nos olhos, orelhas, o faro na amplitude da extensão; ofuscado rabo de evolucionismos figurados, o rabo se perdeu do meio da coluna.

O coração da onça – no seio da mata fechada, entre os músculos atléticos e a estampada pele de ouro, na nuca uma mulher escorrega ligeiramente no chão enquanto se deita, apoiada no cotovelo toma sol na pele, o outro braço como pata pesando no quadril todo aquele músculo atlético o rabo se oculta, é comprovada a teoria da evolução sem exceções?

A pele no sol abre aqueles buracos de ilusão, marca de beijo, pequenos lagos e aranhas sem patas, círculo dentro do círculo, não exatamente como feito em compasso no desenho do papel, um material mais poroso, de traço incerto sem cálculo mesmo – uma tecnologia antiga de sentir ao invés de matematicar as ações, na ilógica do risco tomado, cada ilusão na estampa daquela invisibilidade verde além da cara.

zeligara