Existe uma linha que termina onde eu sou. Compasso
arbitrário da razão, elasticidade perceptiva, material esponjoso é o recife de
corais que separa o que é mar e o que é rio. A nado procuro ultrapassar o que
parece ser uma restrição de covardia. Imprudente, ingênua ou corajosa mas inocente,
não. Preguiçosa mas não passiva.
Sou inteira e nesta geografia os rios parecem contradizer a
terra até que se compreendem como uma paisagem, habitat de animais, tantas
partes, tantas mortes e a vida prevalece. Um
amor não é a história que se conta, é o que morreu e existiu, não é verbo
infinitivo amar, só é presente e é passado, futuro de
amor é morte e futuro de morte, vida.
Os erros se acertam como a água que despeja livre no ar e
toma o formato do copo. E depois dentro do corpo, gole a gole, se distribui
onde é necessária. Existe um sentimento engraçado com um amor que passou, mais
até do que saudade é como se eu quisesse agradecer.
Na vida de uma mulher o amor é uma pequena pedra. Nesta
complexa geografia, não é uma montanha difícil de descobrir nem mesmo um
precipício medonho, é um acidente. Uma lasca de rocha, um minério esquecido
debaixo da terra. Embora seja pequena, uma pedra. A
montanha é o amor de si, o precipício é a mulher não abdicar e sobretudo
amar-se.
Eu sei que sou a mesma terra que desagua em mim rio mar
areia vento e fogo fenomenal ainda assim sou também olhos que fotografam essa
paisagem como sendo parte da paisagem esses olhos são e não são. Olhos que
cortam as linhas e criam ilusões e também aprendem, através das lentes, quais
linhas não são e podem ser quais todas as linhas que podem ser, podem ser,
podem ser, podem ser ser mar e ser rio e céu ser cais e lua sol e pilares
conchas e outras imagens repetidas de sonho.
Agosto é um mês grave. Talvez janeiro seja mais agudo, estridente.
É o inverno, na verdade, perturba a resistência, as plantas se recolhem. Se
contorcem, desistem. Dá vontade de seguir a natureza, no meio dos prédios a
natureza é pouca. Eu, no entanto, sou inteira. Sou urbana mas não quero ser.
Consigo ser natureza. Consigo muito mais, porque eu seria cimentada?
Tomo um chá, me acalmo, ouço música. Ainda preciso
despertar. 5h43 é muito cedo. As coisas não são minhas mas estar ao redor de
coisas é importante para se tornar adulta. Nego as coisas, quero pouco, sou pouca,
sou inteira. Sou comum. Uma sombra de mim é o que acham de mim, na indefinição
da falta de luz dessa imagem eu sou, indefinida, falta, luz, imagem, sou, achem.
Sou desacreditada da minha verdade que é dizer palavras e
escrever imagens porque nunca escrevi uma palavra de verdade. Palavra de
imagem. O momento é extenso, a paisagem é um pouco desejo do olho de ver mais,
de ser mais, de engolir o que não é, e