01/05/2012

nua

, deitada ao seu lado

. Até agora me vesti com palavras, olhares distantes e silêncio

... senti o vento leve entrar pela janela entreaberta, a denunciar o dia odiosamente feio que fazia lá fora. Não era nem um dia desses em que brota nostalgia do cinza e do claro do inverno, era no meio das estações, ninguém sabia ao certo dizer qual era o tempo: seu nome ou com quais cores pintava os céus. Mas estava frio, e foi o frio que me arrepiou todos os pelos

! Ali, eriçada em êxtase de medo e fragilidade, me virei para o outro lado; de costas pra você. 

(me-vi): sem blusa, as mamas rijas de only sixteen e o sutiã (preto com rendas que sempre colocava pra te ver) perdido no meio de umas meias sujas, suas

.

Estava ainda com a saia preta que eu tinha vindo até você. E quando me-olhei nela, virei de volta pra você, beijei seu pescoço, deitei no seu peito apalpando suas clavículas

"não há movimento da escápula que não mova as clavículas"

eu lembro de tudo, você querendo voar comigo. Vejo tão torto

Você tinha nome de anjo, tinha asas (?) ocultas talvez, pois lia poesia. Mas o quê...! Menina que fui, via em ossos deformados a ânsia de voar, asas de penas presas por musculatura tensionada em despir – outras –  pois você só mostrava os pés

Das suas palavras, de seus amigos, de sua brilhante mente obscura, você mostrava só os pés; mas neste dia você estava de peito nu, escápulas e clavículas

; agora me lembro melhor. Eu também me esqueço, porque não vejo nada além de mim.

E me-vejo, a me-despir de novo, sem ver o peito do outro.

Isso tudo porque é de olhos bem fechados; por trás. Como um sonho ruim, as imagens suspensas, num rápido movimento que nunca aconteceu

Aqui estou, ao seu lado, de novo. Em sua cama tem uns adesivos de chiclete, coisas de criança. Eu não uso mais renda, se-perdeu n'algum canto d'um delírio ridículo. E tiro minhas meias sujas que cobrem palavras tortas sobre dias odiosamente bonitos – para outros – sobre o frio que na verdade é você, do outro lado da cama.

*

Graziela C. Drago K. Zeligara

escrito em maio de 2012 - editado em dezembro de 2021


Alyssa Monks - welcome to - óleo sobre linho (2005) - https://www.alyssamonks.com/2005-2009/