Ela, quem anoitece e amanhece
outono e inverno
olho dentro e fundo
anda como se houvesse guerra
desacelera e suaviza o gesto
Ela, o silêncio, a dúvida
sabe o tanto que quer avesso
do que aparece na superfície
desfaz o espelho d’água
desvenda a pedra e o limo
Ela, o homem, a música;
gélido vulcão hibernando
olhos abertos, olhos fechados
sua transpiração produz sucos
Ela atrai os poetas cegos
e bebe seu todo sempre,
alimenta suas mentes, sementes brotam
e papoulas florescem absurdas
Ela, subterrânea; não é mãe -
convida virgens ao seu deleite,
àquela sensação extrema
Ela, quem anoitece e amanhece
cria tétricas ficções
(para ser livre) busca o que proíbem
as leis do medo e do pudor